quinta-feira, maio 31, 2007

Dengo

Cheiro de café que é para acordar a gente, mas que me faz dormir um tanto mais embalada pelo aroma...
Chamamentos que começam pelo menos uma hora antes do horário de levantar, pois você me conhece bem, sabe não sou fácil de acordar. Tentativa derradeira antes do berros: cócegas de mãos geladas debaixo do cobertor marrom quadriculado que você comprou para mim quando eu tinha dois anos! você diz isso com um ar de orgulho maravilhoso!
Ah e tem a hora de dormir em que você tampa todos os 'buraquinhos de ar' que possam existir entre o cobertor marrom quadriculado e a cama, ou quando me chama para ir lá para a sua cama porque -" dois esquentam mais rápido do que um"- diz você.
A gemada com leite fervendo para espantar a gripe, o colo, o dengo, os cuidados, a preocupação até excessiva com as dores de garganta frequentes... você chega até a chorar quando eu tenho febrão...
Somos muito diferentes, compreendi isso faz muito tempo, acho que você também, mas você não tem idéia da falta que me faz.
Sei que muitas vezes eu é que fui a mãe, mas nestas horas de necessidade de dengo, de carinho, atenção, calor, você mostrava a que veio!
Sinto saudades de reclamar de você me chamando cedo, piorei muito com horários depois da sua partida...
Sinto saudades da sua canja, de seu amor sufocante, de sua mania de querer ter os filhos debaixo de suas asas para sempre, sinto saudades do orgulho que você tinha de mim e de me ver saboreando seus quitutes: - eita boca boa! você dizia.
Sinto saudades de ser chamada de filhotinha e gerar ciúme em meus irmãos. Sinto saudades do assobio que eu reconhecia de longe quando você chegava em casa...
No frio aperta mais essa saudade, por conta da necessidade de calor humano que sentimos, acho. Mas também pelo fato de acreditar que em matéria de calor humano as mães, salvo excessões drásticas, são para lá de entendidas.
Amo você dona Linda, fique em paz.

quarta-feira, maio 16, 2007

A Aranha que morava no tanque

Ela nasceu num dia chuvoso e a primeira visão que teve foi a das gotas, enormes para seu tamanho, caindo do céu.
É certo que ela não sabia bem o que era o céu e muito menos do que se tratava aquele negógio sem cor que caía por toda parte, só sabia que era muito bonito, isso sim.
Sua mãe bem que podia lhe explicar, mas estava bastante ocupada com a outras centenas de irmazinhas que tinham nascido também naquele dia, para cuidar.
Acontece que a pequena aranha não conseguia parar de olhar aquilo, que saberia mais tarde se tratar de um fenômeno da natureza, nome dificil para explicar algo tão bonito.
É certo também é que ela ficou encantada mesmo sem saber por muito tempo, do que se tratava aquela 'coisa ', para que servia aquilo que simplesmente caía do céu....
....
nota: este texto é uma tentativa de conto infantil...está chegando aos poucos...não vou força-lo...

esperemos não é?

quinta-feira, maio 03, 2007

Perda

Um sentimento de perda.
Estou com este sentimento me rondando, tem se aproximado a alguns dias, mas não lhe dei muita atenção, só hoje é que ele se fez realmente presente.
Não sei ao certo o que perdi, talvez seja algo que nem cheguei a ter, mas quis tanto que fiquei com essa impressão de ter perdido, é verdade que tenho usado um artifício básico mas funcional para mascarar esta sensação, toda vez que penso no que perdi, ou no que poderia ter tido, lembro-me do que já tenho, do que já tive e até me arrisco a pensar no que vou ter e fica mais leve ou menos pesada a vida...
Acho que isso tudo tem a ver com essa coisa cíclica que é a vida às vezes, com fatos, situações, pessoas que voltam e voltam também as antigas sensações, mas daí nós não somos mais os mesmos, temos outras experiências, outras sensações e ainda retomamos essa que resolveu retornar.
A sensação de perda trás também uma outra: o medo. Este sim, faz questão de se mostrar presente, fica lá, gelado, parado, com os olhos fixos para nós, que ficamos iguais ao bicho que se vê hipnotizado pela lagartixa, pronto para ser comido.
Talvez seja a hora de quebrar isso, enfrentar o medo da perda, transformá-lo em perda do medo, assim, simplesmente como trocar a palavra de lugar.
Como? não sei...alguém se arrisca?

Outono / 3 de maio de 2007.